Leilão da ANP é marcado por falta de disputa

Apesar do sucesso da arrecadação de R$ 165,2 milhões, a 12ª Rodada da Agência Nacional do Petróleo (ANP) se mostrou um leilão de pouco risco e pouca disputa, à exceção das bacias do Recôncavo, a primeira a ser explorada no Brasil, e Paraná, onde as ocorrências de gás são conhecidas há várias décadas.

O que foi vendido ontem na 12ª Rodada foram blocos com perspectiva de exploração de gás natural convencional. Áreas com mais probabilidade de exploração de gás não convencional, como “shale gas” e o “tight gas” por exemplo, e que exige a perfuração de poços com fratura da rocha, não tiveram saída.

O que se comentava é que o custo desse tipo de exploração no Brasil é muito alto, para não mencionar a falta de regulamentação ambiental nos Estados. Além da Petrobras, nenhuma grande petroleira apresentou oferta, apesar da Shell e da Total terem se habilitado.

A Petrobras, que venceu 49 blocos sozinha e em parceria, repetiu a estratégia adotada na 11ª Rodada, com participação seletiva, buscando sócios menores como a Cowan e às vezes deixando empresas menores como a Nova Petróleo, presidida por Murilo Marroquim (ex- Devon), como operadora.

O fato de a Petrobras ter disputado várias áreas não chega a ser surpresa, já que esse foi sempre o comportamento padrão nos leilões. No total, a companhia pagará R$ 120 milhões em bônus. Dentre os blocos arrematados, 22 foram em parceria, sendo 16 operados pela Petrobras e seis operados por parceiros.

A estatal fez poucas apostas arriscadas, uma delas adquirindo um bloco sozinha na Bacia Madre de Dios, no Acre, próximo à fronteira com o Peru. Única empresa com uma rede de distribuição de gás construída no país, a estatal claramente buscou manter seu portfólio exploratório nas regiões onde já opera.

A Ouro Preto Óleo e Gás, arrematou sete blocos em uma das áreas mais disputadas, o sul da Bacia do Recôncavo, associada à Petrobras e a francesa GDF Suez. Com as aquisições, a Ouro Preto passa a ter quatro blocos na Parnaíba e um bloco no mar na Bacia de Barreirinhas, onde é operadora com 100%. O presidente da Ouro Preto, Rodolfo Landim, se disse feliz com a parceria com a Petrobras, observando que a área é servida por uma grande rede de escoamento já madura.

O presidente da colombiana Alvopetro, Carlos Eduardo de Freitas, explicou que a empresa evitou áreas de risco e de novas fronteiras. “Antes do leilão éramos os maiores detentores de blocos e preferimos ficar onde já estávamos”, disse Freitas. “Existe facilidade para entregar óleo para a Petrobras, e está perto das cidades de Catu e Pojuca, onde existe um polo de serviços”. A Alvopetro, que tem escritórios em Salvador e Minas Gerais, arrematou quatro blocos passando a ter 14 áreas sob concessão.

A Petra Energia, que não assinou nove contratos de blocos arrematados na 11ª Rodada, realizada em maio, adquiriu sete blocos na Bacia do Paraná junto com sócios. A Petra arrematou quatro blocos na parte paranaense da bacia do Paraná, sendo operadora com 30% em sociedade com a Companhia Paraenaense de Energia (Copel), Bayar, ambas com 30% e a Tucuman com 10%. Outros três blocos no lado paulista foram arrematados pela Petra com a Bayar, cada uma tendo participação de 50%.

Uma fonte da Petra explicou que com as aquisições que já tinha e as novas, a empresa fez “um arco” em áreas dos estados de Minas Gerais, São Paulo, Paraná e Bahia que concentram 90% do mercado brasileiro de gás e energia. No momento conduz uma campanha exploratória na Bacia do São Francisco (MG) e é sócia da Parnaíba Gás Natural (ex-OGX Maranhão), que produz gás na Bacia do Parnaíba. Segundo a fonte, a devolução de áreas arrematadas na 11ª Rodada se deveu a desistência de um potencial sócio que desistiu.

Magda Chambriard, diretora-geral da Agência Nacional do petróleo (ANP), descartou que tenha sido negativo o fato da Petrobras ter sido a única grande petroleira a participar do leilão. “A Petrobras tem sido a grande capitã desse time ao longo desses anos todos e não íamos esperar que justamente agora ela desistisse desse protagonismo”, disse Magda. “A Petrobras é sim a grande protagonista da indústria do petróleo no país”. completou.

A diretora-geral da agência comemorou a procura por áreas ainda pouco conhecidas. “A grande estrela dessa rodada, se eu tiver que dizer que teve uma estrela só, foi a Bacia do Paraná, uma nova fronteira”, disse Magda, destacando que a bacia já teve áreas leiloadas na 10ª Rodada, sem sucesso. “As bacias maduras nós já conhecemos, elas despertam interesse em todas as rodadas de licitação”, afirmou.

Dos 240 blocos ofertados, 72 foram arrematados, somando R$ 165,2 milhões de bônus de assinatura. O resultado superou muito a estimativa do diretor da ANP Florival Carvalho que, antes de iniciar a rodada, afirmou a jornalistas que se o total de bônus de assinatura no leilão somasse R$ 50 milhões, a licitação seria considerada um sucesso.

O Programa Exploratório Mínimo (PEM) destas áreas somadas é de mais de R$ 500 milhões e a média de conteúdo local oferecido é de 72,61% para a fase de exploração e 84,47% para a de desenvolvimento. No total, 12 empresas apresentaram ofertas vencedoras, sendo oito brasileiras e quatro estrangeiras.

Magda Chambriard disse não acreditar na realização de uma nova rodada de licitações em 2014. “Se nos sentirmos confortáveis para propor uma rodada, faremos. Mas, particularmente, não acredito. [2014] Será um ano de grande reflexão interna, de coleta e dados, para fazer um trabalho mais forte e mais profundo e dar à sociedade uma resposta mais forte”, afirmou Magda.

(Fonte: Valor Econômico/Cláudia Schüffner, Marta Nogueira e Rodrigo Polito | Do Rio)

http://portosenavios.com.br/industria-naval-e-offshore/21929-leilao-da-anp-e-marcado-por-falta-de-disputa

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