Em busca da competitividade perdida

Entrevista com João Luiz Zuñeda *

O Brasil ganhou destaque mundial ao anunciar que havia encontrado reservas de pré-sal na sua costa litorânea, em 2007. Em um panorama em que o petróleo é o medidor da força entre os países, a descoberta indicava que o futuro estava garantido. Passada quase uma década o que se vê é que o Brasil perdeu uma importante oportunidade de liderar o debate internacional sobre formas alternativas de combustíveis ao petróleo.

A justificativa dessa perda de time está ligada à falta de competitividade do País. Essa é a visão cautelosa e consciente de um dos principais especialistas brasileiros na área de petroquímica, o diretor da Maxiquim, João Luiz Zuñeda. O especialista não está sozinho neste alerta. São constantes as manifestações de importantes entidades ligadas à indústrias, como Confederação Nacional da Indústria (CNI),  a  Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim) e a Associação Brasileira do Plástico (Abiplast), para a importância de o País recuperar a capacidade de competitividade. A seguir, Zuñeda avalia a posição do Brasil diante de outras potências, como Estados Unidos, e os reflexos preocupantes se nada for feito em curto prazo.

Como o Brasil está em relação à competitividade da indústria no panorama internacional?

Há quase 10 anos o País entendeu que tinha descoberto uma riqueza, que é o pré-sal. Só que não foi uma descoberta simples e sim resultado de pesquisas e investimentos feitos pela Petrobras. Nesse momento, o governo tomou uma postura, assim como a maioria dos brasileiros, de achar que só por ter encontrado as reservas já estava com as mãos no pote de ouro. E desde então passou a focar toda a sua atenção nas discussões que envolviam a legislação de exploração. O Brasil gastou tanto tempo nessa discussão, que terminou só no final do ano passado com a realização do Leilão de Libra. E isso ocorreu por uma série de fatores que vão desde os interesses políticos aos empresariais. Agora é preciso reconhecer que uma riqueza para ser explorada precisa de tempo, mas tempo demais é prejudicial. E este, o pré-sal, é um exemplo. O País deixou de se destacar internacionalmente e ainda não está colhendo os lucros disso.

Neste caso, quer dizer que o governo deveria ajudar, mas na prática está atrasando?

A competitividade se dá dos dois lados: empresa e governo. Nos Estados Unidos, por exemplo, a atuação do governo é forte. Ele regula onde tem que regular e com rapidez necessária para manter o seu produto nacional com capacidade de competir com o resto do mundo. Na crise do petróleo, o governo norte-americano focou a sua atenção em buscar um caminho diferente, e isso já é visível com o gás de xisto (um gás natural retirado de dentro de formações de rochas). Eles não ficaram sentados esperando. Ao dar maior atenção para a produção do gás de xisto, os EUA deixaram de ser tão dependentes do petróleo árabe e abriram um caminho que até então era desconhecido. E mais do que isso. O gás de xisto provavelmente tornará os EUA o maior produtor do mundo de combustível nos próximos anos.

Isso vai impactar até numa mudança de forças internacional em relação ao petróleo?

Com certeza. A previsão é que as Américas tomem a dianteira nesta reestruturação de forças, com os EUA sendo o líder neste processo. Brasil, México, Venezuela e Argentina deverão integrar o bloco de líderes. A questão é que o gás do xisto é o exemplo claro do que significa competitividade. E o nosso país precisa de agilidade para tomar decisões rápidas, estimular o setor e garantir condições de brigar por um espaço. O Brasil poderia ser o que são os EUA se tivesse como competir.

Mas como poderíamos ser mais ágeis?

Educação e competitividade seguem o mesmo caminho. Elas não são feitas por meio de decretos, mas por decisões. Quanto mais se demora, mais se perde espaço e fica atrasado. O México perdeu muito espaço por falta de competitividade, ao ficar isolado na extração apenas de um campo e não explorar alternativas. No caso brasileiro o processo é similar. E o pior é que perder competitividade compromete a presença de importantes empresas. Elas já fazem a sua parte que é a de investir em pesquisa, para assim terem um produto mais competitivo. Agora de nada adianta se depois da empresa o produto fica inviável.

O panorama futuro é pessimista para a indústria brasileira então?

Não totalmente, porque o Brasil tem mercado aquecido e recursos naturais. E estar presente aqui garante um percentual de vantagem. Ao mesmo tempo, dificilmente as empresas vão concentrar os seus investimentos somente aqui. Para compensar a falta de competitividade, ela vai se ver obrigada a buscar outros mercados mais interessantes. É aquele modelo empresarial do ter “um e o outro”, em que há uma divisão de investimentos. Mas a questão futura é até quando o Brasil seguirá perdendo espaço? Isso porque o País perde duplamente. Primeiro por não avançar sozinho e, segundo, pela agilidade dos seus concorrentes. Claro que o pessimismo não é tão grande porque nem tudo é perfeito. Um exemplo é que há 20 anos os Estados Unidos tinham o controle absoluto da produção do setor automobilístico, e a concorrência com a chegada dos países asiáticos fez com que Detroit sofresse uma crise.

E o que o Brasil pode fazer para reverter essa situação?

Atuar em fatores que geram competitividade. O País precisa ter mais engenheiros, há uma dificuldade muito grande em gerar tecnologia na área petroquímica. O plástico verde ainda conseguiu se destacar e, inclusive, sendo pioneiro. É uma exceção deveria ser o padrão. O custo do investimento e o preço da matéria-prima ainda são altos. Juntando tudo isso, pergunto: como tu vai querer investir no Brasil? No momento, a justificativa é o mercado interno. Além disso, há outros problemas internos. Uma ironia muito grande é que o País consegue ser líder mundial no agronegócio. Só que esqueceu de investir na produção de fertilizantes ( que são fundamentais). Assim, o campo desenvolve um setor extremamente lucrativo, mas esqueceu de investir em fertilizantes e, consequentemente, quebrou a linha de competitividade País, que poderia ser muito maior neste setor. Então, o alerta é o seguinte: o País precisa investir e ser rápido para ter capacidade de brigar por espaços com os outros países.

*João Luiz Zuñeda é Assessor de Mercado da Maxiquim

 

(Fonte: Revista Voto)

 

 

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