Na avaliação da Associação Brasileira da Indústria Química, (Abiquim), o setor não tem condições de absorver uma alta dessa magnitude neste momento. Não bastasse o elevado déficit comercial – que deve ficar entre US$ 31 bilhões e US$ 32 bilhões neste ano -, químicos e petroquímicos produzidos nos Estados Unidos tornaram-se mais competitivos desde a revolução do gás de xisto, que derrubou os preços do gás natural que também pode ser usado como matéria-prima. Com isso, aquele país voltou a atrair investimentos e colocou em xeque a alocação de recursos onde os insumos são mais caros.
Somente no Brasil, estima-se que investimentos da ordem de R$ 1 bilhão estejam em risco por conta do impasse sobre o contrato e de um eventual reajuste. A polonesa Synthos, uma das maiores fabricantes europeias de borracha sintética ESBR e poliestireno expandido (EPS), é uma das empresas que colocaram o pé no freio. Em abril, a Synthos anunciou acordo de fornecimento de matéria-prima com a Braskem para abastecimento de fábrica de borracha sintética que pode ser erguida no Polo Petroquímico de Triunfo (RS).
O acordo, porém, poderia ser rejeitado a partir de 30 de junho, caso a Braskem não assegure contratos de longo prazo, em um acerto que está condicionado à renovação dos termos do contrato de suprimento de nafta – matéria-prima para a produção do butadieno que será fornecido pela petroquímica à Synthos – com a Petrobras. O acordo ainda não foi rejeitado, mas os planos estão suspensos.
A constituição de uma joint venture entre Braskem e Styrolution, joint venture entre as gigantes Basf e Ineos, que é a maior fornecedora global de estireno, também poderia ser ameaçada. Os planos preveem a instalação de uma fábrica de ABS, plástico de engenharia muito utilizado na indústria automobilística e de eletroeletrônicos, com capacidade para 100 mil toneladas por ano na Bahia. Sem a definição de preços de insumos, porém, não haveria como avançar no projeto.
Para a Abiquim, além de comprometer investimentos, o aumento dos custos com insumos petroquímicos no país certamente vai acelerar o ritmo das importações, que têm deixado marcas negativas nos níveis de produção do setor. Dados da entidade mostram que, em 2013, quando a produção de químicos cresceu 1,6% e o consumo aparente nacional (CAN) avançou 7,1%, um terço da demanda foi atendida por importados. Neste ano, conforme a entidade, a fatia tende a crescer.
(Por Stella Fontes | De São Paulo)
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Matéria publicada originalmente no jornal VALOR ECONÔMICO, edição de 30 de julho de 2014
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