Solvay retomará “do zero” a venda de ativos de PVC

Após o veto do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) à compra de 70% do capital da Solvay Indupa pela brasileira Braskem, o grupo belga Solvay vai recomeçar “do zero” uma nova concorrência para vender seus ativos de PVC (nome da resina de policloreto de vinila), disse ao Valor o presidente-executivo do grupo, Jean-Pierre Clamadieu.

Em passagem pelo Brasil na semana passada, o executivo afirmou que a Solvay, apesar da decisão da autoridade antitrustre, está decidida a vender seus ativos de PVC, situados no Brasil (São Paulo) e Argentina. O Cade entendeu que a aquisição pela maior produtora de resinas termoplásticas das Américas iria se configurar como uma forte concentração de mercado nesse produto.

“A decisão [do Cade] foi uma surpresa. Estamos desapontados. A consolidação oferecia um projeto positivo”, afirmou Clamadieu. A operação, que avaliava a Indupa inicialmente em US$ 290 milhões, colocaria a Braskem no grupo dos quatro maiores produtores de PVC nas Américas, com capacidade total de 1,25 milhão de toneladas anuais da resina e 890 mil toneladas de soda. O Cade, porém, avaliou que a transação resultaria em um monopólio no mercado local, com risco de elevação de preços ao consumidor no futuro.

De acordo com Clamadieu, que não quis entrar em detalhes sobre o novo processo de venda, a expectativa é de que a operação seja concluída com rapidez, eventualmente ainda em 2015. “Teremos, de novo, um processo completo de venda, que será iniciado nos próximos meses”, afirmou o executivo. “O grupo continua olhando para as operações em que pode se posicionar bem, como plásticos de alta performance, e vai sair das atividades que possam ser melhor executadas por outras companhias”, disse.

No ano passado, o grupo Solvay faturou € 1,1 bilhão na América Latina, ou algo como 11% das vendas líquidas mundiais (€ 9,9 bilhões). No Brasil, o faturamento foi de € 1 bilhão. Neste ano, até setembro, as receitas em reais no país cresceram 1%, na esteira do aumento dos preços dos produtos da empresa, como forma de repasse da alta nos custos das matérias-primas e de energia, junto com aumento de volume. Além disso, para mitigar os efeitos negativos do mercado interno nos negócios, a Solvay ampliou exportações, principalmente na cadeia do fenol (base de resinas fenólicas e determinados produtos da cadeia da poliamida). Em 2013, os embarques do grupo a partir do país somaram € 210 milhões.

Fabricante mundial de especialidades químicas e dono da Rhodia, a Solvay vai encerrar 2014 com investimentos da ordem de US$ 100 milhões no Brasil, acima da média de US$ 60 milhões que fez nos últimos seis anos. A aposta no país está alinhada à estratégia de reforçar a posição em mercados de crescimento rápido, como especialidades para agroquímica e produtos de consumo, e foi mantida a despeito do complicado momento econômico, que deve se estender ao longo de 2015, na avaliação de Clamadieu. “O Brasil já entrou em várias crises nas últimas décadas e saiu mais forte. Temos confiança no país no longo prazo”, afirmou.

Para o executivo, a indústria química brasileira opera em grande desvantagem no que diz respeito a preços da matéria-prima. Enquanto o gás natural se tornou mais barato no exterior, especialmente nos Estados Unidos após a descoberta do gás de xisto, as companhias brasileiras ainda estão baseadas em nafta, cujos preços reduzem significativamente as oportunidades de exportação de químicos. “É muito importante que o novo governo olhe isso. O preço da nafta torna difícil o desenvolvimento de um produto competitivo”, avaliou.

O impulso nos investimentos da Solvay no Brasil em 2014 foi gerado pela compra da operação local da Erca Química, em um negócio de R$ 100 milhões, valor que se refere à aquisição propriamente dita, terrenos adicionais e equipamentos. Com a Erca, cuja fábrica fica em Itatiba (SP), a Rhodia pode mais que dobrar a capacidade produtiva de surfactantes e especialidades químicas voltadas aos mercados de agro, cuidados pessoais e do lar, tintas e revestimentos, mineração e óleo e gás, que são atendidos pela Solvay Novecare.

Outra parcela relevante dos investimentos no país está relacionada à parceria firmada com a GranBio, empresa de biotecnologia da família Gradin, e à instalação de um novo laboratório de bioquímica industrial, com inauguração prevista para o primeiro trimestre de 2015. A meta da companhia é desenvolver novas moléculas a partir de biomassa ou novas rotas para a obtenção de moléculas já existentes a partir de fontes renováveis.

“Se a química a partir de fontes renováveis tiver mesmo de se desenvolver, isso vai ocorrer a partir do Brasil”, declarou Clamadieu, acrescentando que, globalmente, fala-se muito do potencial do Brasil nesse terreno.

Em agosto do ano passado, a Rhodia e a GranBio assinaram um acordo voltado à produção de bio n-butanol a partir de palha e bagaço de cana-de-açúcar, que já são usados na fabricação de etanol de segunda geração. O insumo pode ser usado na produção de acrilatos e metacrilatos, além de ter aplicação na indústria de tintas e solventes.

Em setembro deste ano, a GranBio iniciou a produção na primeira fábrica de etanol de segunda geração em escala comercial do Hemisfério Sul, batizada Bioflex 1. Localizada em São Miguel dos Campos, Alagoas, a unidade tem capacidade inicial de produção de 82 milhões de litros de etanol por ano. Para o presidente da Solvay, é possível que já em 2015 a parceria em bio n-butanol pode alcançar estágio piloto. “A impressão é de que estamos às vésperas da partida da indústria química a partir de fontes renováveis”, afirmou o executivo.

(*) Matéria publicada originalmente no jornal VALOR ECONÔMICO, edição de 2 de dezembro de 2014

 

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