Queda do preço do Petróleo derruba margem de insumos básicos

Por Stella Fontes | De São Paulo, publicada originalmente no jornal VALOR ECONÔMICO, de 11 de dezembro de 2014

Os preços dos principais petroquímicos básicos, que são usados pela indústria química e de plásticos como matéria-prima, estão recuando no mercado internacional, na esteira da forte desvalorização do petróleo, e levando à correção, para baixo, da tabela de preços das petroquímicas baseadas em nafta.

O Valor apurou que a Braskem, maior produtora de resinas das Américas, já está revendo os preços de insumos químicos básicos, como eteno, propeno e butadieno. A Petrobras, por sua vez, informou a clientes a redução dos valores de óleos básicos que fornece, utilizados principalmente em lubrificantes, de 5% a 8% conforme a viscosidade, para dezembro.

 

Segundo dados da RIM Intelligence, consultoria japonesa que fornece informações da área de energia para instituições financeiras, petroleiras e petroquímicas mundiais, de outubro para cá, os spreads (diferença de preços) dos principais petroquímicos básicos (como eteno, propeno e butadieno) em relação à nafta caíram na Ásia, ao mesmo tempo maior produtor e maior comprador desses produtos, acompanhando o recuo dos preços do derivado do petróleo.

No caso da nafta e do eteno – usado sobretudo na fabricação de polietileno -, a queda nas margens foi de mais de US$ 200 por tonelada. Já a margem do butadieno, que é a matéria-prima para borracha sintética, caiu à metade.

Em boa parte, essa redução dos spreads reflete a forte desvalorização da nafta petroquímica. O insumo despencou de US$ 970 a tonelada ARA, que faz referência aos portos de Amsterdã, Roterdã e Antuérpia, em meados de julho para menos de US$ 500 por tonelada ontem, o que não ocorria desde a última grande crise financeira global. Na média de dezembro até agora, o preço está em US$ 546,07 por tonelada.

O cenário para os petroquímicos básicos fica ainda mais turvo diante das incertezas sobre os rumos dos preços do óleo, que no pregão de ontem perdeu o patamar de US$ 65 o barril (Brent). Sem visibilidade do que vai ocorrer e na expectativa de mais desvalorização, clientes estão adiando ao máximo compras com vistas à formação de estoques, o que adiciona pressão sobre os preços.

Apesar do impacto sobre os insumos básicos, o saldo da desvalorização do petróleo é, no geral, positivo para o país, na avaliação do diretor e sócio da consultoria MaxiQuim, João Luiz Zuñeda. “Para os países que são exportadores de petróleo, essa é uma má notícia”, ponderou. Segundo o especialista, embora a Ásia, com destaque para a China, possa não estar contribuindo para as margens das petroquímicas mundiais, os preços das resinas — polietileno e polipropileno – estão se sustentando em alta nos Estados Unidos, diante da moderada retomada da demanda.

Esse comportamento no mercado americano, explicou Zuñeda, contribui para a manutenção dos preços das resinas em níveis elevados no mercado internacional ao mesmo tempo em que a nafta fica mais barata, aumentando os spreads (ou margens) das petroquímicas baseadas nesse derivado do petróleo, caso da Braskem. Ontem, porém, houve queda entre US$ 50 e US$ 60 por tonelada nos preços das resinas na Ásia, movimento que até o fim do ano deve chegar ao mercado americano.

Há dúvidas ainda quanto à sustentação das cotações nos níveis atuais pelo fato de o gás natural, usado como matéria-prima principalmente nos Estados Unidos, também estar em rota de desvalorização, em movimento que deve arrastar os preços das resinas em algum momento. De 20 de junho para cá, o gás referência Mont Belvieu passou de S$ 212,40 por tonelada para US$ 110,37 por tonelada, queda de 48%.

Além disso, esse barateamento do gás natural reduz ainda mais a competitividade dos petroquímicos brasileiros, produzidos a partir da nafta, quando comparados aos de origem americana. Essa realidade da indústria brasileira, porém, poderia ser outra, segundo estudo recente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), conduzido pelo consórcio formado pela Bain e Gas Energy, sobre o potencial da indústria química brasileira.

O estudo propõe a maior utilização do gás natural para fins petroquímicos – hoje o Brasil separa apenas 20% do etano contido no gás, que tem uso preferencialmente energético -, o estabelecimento de uma política nacional de suprimento de matéria-prima petroquímica que considere fontes competitivas de abastecimento (e em consonância com a política de preços dos combustíveis) e destinação do óleo e gás do pré-sal também para o setor.

Conforme o consórcio, um desconto de 6% a 16% no preço do petróleo da União, e de 4% a 14% no dos petroquímicos de primeira geração, resultaria em US$ 20 bilhões a US$ 25 bilhões em investimentos. Procurada, a Braskem confirma que houve queda de preços dos petroquímicos, acompanhando a queda da matéria-prima no mercado mundial, porém não forneceu mais detalhes.

 

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