Os desafios de 2014

Ressaca da crise mundial e interferência do governo brasileiro na economia prometem um ano desafiador, porém, com desempenho um pouco melhor do que 2013 na balança comercial e maior produção agropecuária.

MarcosCarrieri

Este não foi um ano fácil para a economia brasileira. Embora a expectativa do governo e da maioria dos economistas seja de que em 2013 o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro cresça aproximadamente 2,1%, o dobro de 2012, o ano que termina deixa um cenário desafiador para 2014. Inflação resistente, juros em alta, intervenção do governo na economia e incertezas com o cenário externo não animam os economistas. Por outro lado, a produção do agronegócio deverá crescer e a balança comercial, encerrar o ano com superávit.

Professor de Economia e Finanças do Ibmec-RJ, o economista Luis Filipe Rossi afirma que em 2014 o crescimento do Brasil não deverá se “descolar” da “ressaca” internacional. O mundo ainda se recupera da crise de 2008. Além do cenário externo, diz Rossi, a economia brasileira deverá continuar a sofrer com a excessiva interferência do governo num ano de eleições majoritárias. Os investidores estrangeiros estão atentos às medidas adotadas pelo governo.

“Não acho possível ver o Brasil descolado do mundo, mesmo com a Copa e as Olimpíadas a caminho. Até porque a Copa está ficando para trás, será em 2014, e seus efeitos [para a economia] já devem ter sido antecipados. O mundo ainda se recupera da ressaca da crise. E a economia brasileira passa por reajustes, por mais que o governo faça pirotecnias”, afirma Rossi. “Vemos muita expansão de crédito, mas para uma demanda que não existe, e 2014 não deverá ser um ano de reversão deste quadro. Tudo isso é visto pelo investidor estrangeiro com aumento da percepção de risco”, diz o economista.

Rossi observa que o Brasil poderá ser prejudicado, em 2014, pelo fim dos estímulos do governo norte-americano. O Fed, o Banco Central dos Estados Unidos, coloca US$ 85 bilhões todos os meses na economia norte-americana e mantém a taxa de juros a 0,25%. Sinais de recuperação podem fazer o governo dos Estados Unidos reduzir os estímulos.

“Se a oferta de dólares por parte dos Estados Unidos cessar, isso vai nos afetar. Se o Fed achar que não precisa mais dos estímulos ao mercado, certamente irá aumentar os juros lá, o que fará com que o Banco Central aumente os juros aqui também [para ‘pagar’ um lucro ao investidor e deixar o Brasil atrativo]”, afirma.

Corrente comercial

De acordo com o presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, as estimativas para 2014 no setor externo indicam um ano com mais exportações do que importações e balança comercial positiva ao fim do próximo ano. No entanto, afirma, a tendência é que o preço de todas as commodities, agrícolas e minerais, deverá cair.

“Todas as commodities, sem exceção, estarão com preços abaixo dos observados neste ano. Não é uma queda de preços forte, mas serão preços mais baixos. Algumas tiveram recorde de exportações neste ano, como o açúcar, soja e minério e isso não deve se repetir”, afirma Castro. O produto que poderá fazer a balança ser positiva para o lado brasileiro, disse Castro, é o mesmo que, em 2013, está prejudicando o desempenho das exportações: o petróleo.

“Petróleo deverá ser exportado em uma quantidade maior, no mínimo 50% a mais do que neste ano, é o que se espera. A previsão é que em 2014 não haja tantas interrupções de operação [de plataformas] quanto neste ano. Se isso se confirmar, a produção deverá crescer aproximadamente 10% em cerca de 200 mil barris de petróleo/dia. Temos que crescer 50% em exportação de petróleo para compensar uma queda de preço de aproximadamente 5%.”

Castro afirma que ainda é difícil traçar estimativas para as importações. Elas, no entanto, deverão ser menores do que neste ano. “A quantidade geral importada deverá ser menor. Uma queda de 5%, até devido à influência de um câmbio mais forte. No fim do ano, esperamos que o País registre um superávit entre US$ 5 bilhões e US$ 8 bilhões, ainda mais se forem lançadas mais plataformas [de petróleo ao mar], como se espera. Tudo sem considerar um cenário de crise”, diz.

Agronegócio

Professor de Economia Rural da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Eugenio Stefanello afirma que no próximo ano o setor agropecuário deverá ter aumento de produção em alguns setores e até redução de preços. Mas ele alerta que o câmbio a R$ 2,35 por dólar em média neste fim de ano ainda está aquém do ideal.

 

“Para a safra 2013/3014 temos previsão de produzir 195 milhões de toneladas de grãos, das quais aproximadamente 90 milhões de toneladas de soja e 78 milhões de toneladas de milho, com situação normal das lavouras em função da recuperação da safra dos Estados Unidos e maior área de plantio na América do Sul. Espera-se preços um pouco menores para soja e milho”, afirma.

A expectativa na pecuária, afirma o professor, é que a produção de carne bovina aumente 4%, a de frango entre 3% e 4% e a de suínos, de 2% a 3% em relação a 2013. A produção de leite, que neste ano deve ficar em 33 bilhões de litros, deverá ter um aumento de 3% em 2014. Maior oferta pode ocasionar uma pequena queda de preços. “Não deverá haver queda de produção, mas produtos com preço menor. O leite deverá ter uma pequena redução e as carnes, estabilidade e até uma ligeira queda. Nada que comprometa a rentabilidade do produtor”, afirma.

Segundo Stefanello, contudo, o câmbio desde fim de ano, aproximadamente R$ 2,35, ajuda os exportadores a recuperar faturamento. No entanto, ainda é insuficiente para equilibrar as contas do País e deverá subir ainda mais no próximo ano. “Começamos [o ano] em R$ 1,90 por dólar, chegamos a R$ 2,45 e deveremos encerrar o ano em torno de R$ 2,40. E 2014 poderá chegar a R$ 2,50. Ainda está abaixo do equilíbrio de mercado porque temos um déficit em transações correntes de R$ 70 bilhões”, observa.

(Fonte: ANBA)

http://www.anba.com.br/noticia/21861649/especiais/os-desafios-de-2014/

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