Indefinição sobre novo preço da nafta preocupa fabricantes

A 45 dias do término do contrato de fornecimento de nafta entre Petrobras e Braskem, as companhias ainda não chegaram a um entendimento e isso aumenta a preocupação em todo o setor. O contrato vigorou nos últimos cinco anos e já foi prorrogado, mas mesmo com mais tempo as companhias não chegaram a um entendimento quanto aos preços da matéria-prima do novo acordo.

De um lado, a Petrobras, que é dona de 36% do capital total da petroquímica, insiste em repassar um adicional relativo a despesas com importação de nafta, o que implicaria um aumento de pelo menos 5% sobre os valores do contrato que venceu no fim de fevereiro e foi prorrogado por seis meses.

De outro, a Braskem busca a redução de seus custos com matéria-prima, diante da impossibilidade de repasse de aumentos à cadeia petroquímica e química no país, que vive momento delicado. Além disso, a queda acentuada dos preços das matérias-primas nos Estados Unidos, na esteira do gás de xisto, devolveu competitividade às petroquímicas americanas, que voltam com força ao mercado global e acirram a concorrência.

Em última instância, apurou o Valor, a manutenção dos termos propostos pela Petrobras no novo contrato poderia levar a Braskem a parar parte da produção em centrais petroquímicas que utilizam a nafta como base, com vistas a manter o equilíbrio financeiro da operação. E pelo menos R$ 1 bilhão em investimentos previstos em duas novas fábricas no país, uma de ABS (um tipo de plástico de engenharia) e outra de borracha sintética, ficaria no papel.

“Não é um impasse para a Braskem. É impasse para toda a indústria química nacional. É impossível absorver qualquer aumento de custo neste momento”, diz o presidente-executivo da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), Fernando Figueiredo.

Em 2014, a produção da indústria química nacional pode ficar estagnada, com avanço dos importados – que hoje já correspondem a um terço do mercado brasileiro – e déficit comercial estimado em pouco mais de US$ 31 bilhões. “É mais fácil importar produto final do que nafta. Se houver aumento, a indústria perde ainda mais competitividade. Minha preocupação não é apenas com a Braskem, mas com toda a segunda e terceira geração, que não têm capacidade de absorver isso”, ressaltou.

Segundo fontes da indústria, a estratégia da Petrobras de usar cada vez mais a nafta local para produção de combustível – atendendo a demanda doméstica crescente por gasolina e com isso reduzindo a necessidade de importação -, e destinar a nafta importada para abastecer a petroquímica, vai penalizar todo o setor caso prevaleça o repasse dos custos.

O uso crescente da matéria-prima nacional no chamado “pool” de gasolina, uma mistura de gasolina tipo A, etanol e nafta, justificaria um aumento dos preços do próprio combustível e não da nafta petroquímica, na avaliação de Figueiredo. “Correto seria que houvesse uma correção da gasolina. Se a matéria-prima continua a subir, a indústria terá de parar unidades, assim como já ocorreu no passado”, afirmou.

Números da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) indicam que houve, de fato, redução da oferta de nafta nacional para fins petroquímicos. Entre 2000 e 2011, enquanto a importação da matéria-prima cresceu 87%, de 3,8 milhões para 7,1 milhões de toneladas por ano, a produção do insumo para o setor petroquímico recuou 38%, de 10,2 milhões de toneladas para 6,3 milhões de toneladas por ano. Já o consumo de gasolina C no país – que já está misturada à nafta -, também segundo dados da ANP, avançou 62,78% entre 2009 e 2013.

Anualmente, a Braskem consome 10 milhões de toneladas de nafta e a Petrobras é responsável pelo fornecimento de 7 milhões de toneladas. Outras 3 milhões de toneladas são importadas diretamente pela companhia, de fornecedores na Argélia, Venezuela e Rússia, em menor escala. Considerando-se os preços atuais da matéria-prima, o acordo com a Petrobras representa cerca de R$ 15 bilhões por ano.

O Valor apurou que, na avaliação de técnicos da Braskem, o aumento proposto pela Petrobras “é suficiente para a conta não fechar”. Matérias-primas representam 70% dos custos da companhia e a nafta responde por 85% da matriz. Diante da oferta de insumos mais competitivos em outros países, a petroquímica do grupo Odebrecht ampliou presença no exterior e está erguendo um complexo no México. Além disso, estuda a implantação de um projeto baseado em gás de xisto nos Estados Unidos.

Procurada, a petroquímica informou em nota à imprensa que “está empenhada em encontrar uma solução com a Petrobras” e segue “trabalhando para que as negociações sigam na direção de um resultado positivo que garanta a competitividade da indústria química e petroquímica brasileira”. A Petrobras informou, por meio de assessoria de imprensa, que não comentaria o assunto.

 

(*) Matéria publicada originalmente no jornal VALOR ECONÔMICO, de 18 de julhode 2014

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